6º Cinefront – Apresentação
A fronteira é considerada por muitos o limite aquém margem da civilização, onde ainda não habitam os progressos da modernidade, um lugar do vazio social, de riquezas naturais não explorados e um limbo de existências destituídas de humanidade. Sua conquista, historicamente, sempre foi justificada pela necessidade de ampliar as possibilidades da sociedade considerada centro do desenvolvimento, muitas vezes alegando a necessidade de integrar e mobilizar a própria região de fronteira a desenvolvimento igual.
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Assim se justificou o processo secular contínuo de invasão, conquista, saques, extermínios civilizatórios e colonização dos continentes americano e africano. Assim se justifica a contínua usurpação, subjugação e destruição da Amazônia.
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Assim secularmente as vidas que fazem da fronteira lugar de vida, em todas suas formas, tem sido drasticamente impactada, expropriada, arruinada e dizimada de todas as formas: desmatamento florestal; extinção de espécies animais; poluição, represamento e morte dos rios; privatização das terras; exploração dos minérios; escravidão, opressão e assassinato das populações locais etc.
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Na região de fronteira, apoiados no seu controle do Estado e dos governos, os senhores do poder econômico – colonizadores, bandeirantes, fazendeiros, sojeiros, empreiteiros, mineradoras etc. – fazem da violência a sua lei e instrumento da manutenção da ordem pela imposição da política do medo e da morte.
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Não há porque assegurar aos povos locais a liberdade, igualdade, democracia e, até mesmo, a estar vivos, nada lhes justifica direitos humanos visto que não são considerados plenamente como tais, ainda estão na zona do não ser.
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Assim se justificam todas as atrocidades cometidas no hoje pelo Governo Bolsonaro e seus apoiadores.
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Mas aqui, onde a floresta queima para virar pasto e campos de soja; árvores gigantes são derrubadas para serem vendidas clandestinamente no mercado internacional; garimpos alastram sua violência por territórios indígenas e contaminam rios e a maior empresa mineradora do mundo saqueia riquezas naturais, bem aqui, existem aqueles que se colocam à luta contra tudo isso e em defesa da vida e da Amazônia!
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Aqui, bem aqui, existem aqueles que, de pés no chão e à palma da mão, cotidianamente, com suas diversas lutas – pela terra, pelos rios, pela floresta, por trabalho e renda e por direitos humanos – criam formas de re-existência às atrocidades do capitalismo e seus governos!
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São indígenas, camponeses, quilombolas, extrativistas, trabalhadores urbanos, comunidade LGBTQIA+ e populações de periferias urbanas que, para além da afirmação da fronteira como front de suas batalhas, auto organizados politicamente, vivenciam práticas solidárias, de empoderamento mútuo e emancipação coletiva e defendem relações não predatórias com a floresta, os rios e a terra, como produtores de conhecimentos, tecnologias, economias, artes e culturas que afirmam esse lugar como território de vida e justificam a urgência de todas as lutas por uma Amazônia viva!
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É bem aqui, nesse território de lutas, contradições e reinvenções, por entre tempos de pandemia e governos da necropolítica, que também re-existimos e vimos anunciar a realização de nosso festival, com arte do cartaz produzida a partir das fotos de Miguel Takao Chikaoka, artista homenageado neste ano que registrou muitos momentos históricos da luta popular e por direitos humanos na Amazônia.
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É aqui, bem aqui, onde nascem revoluções em defesa da vida todos os dias, denunciando atrocidades e anunciando possibilidades à humanidade que fazemos e celebramos nosso cinema como uma arma de todas as Lutas Amazônicas!
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Fora Bolsonaro, Genocida!!
Bem vindos ao 6º Festival Internacional Amazônida de Cinema de Fronteira – FIA CINEFRONT.
Evandro Medeiros
Membro da Comissão Organizadora e Idealizador do CINEFRONT